O rosto que sorri é uma celebração cáustica dos relacionamentos modernos, bem como da própria ficção. É o retrato estilizado de uma realidade mundana, é a tentativa de alcançar algum tipo de verdade através de uma ficção que se assume ficção.
A história de dois jovens que se envolvem no final de uma festa, já de manhã, e se afastam antes do pôr-do-sol, vista através do sonho que a garota tem quando os dois dormem juntos. Assim como em um sonho existem símbolos a serem interpretados, metáforas permeiam o curta-metragem, sem que, no entanto, o espectador tenha que decodificá-las para apreciar o produto final.
É uma história de incomunicabilidade.
Uma das características recorrentes da narrativa contemporânea, seja no cinema ou na literatura, é a utilização do próprio veículo midiático, ou processo de criação, como forma de tornar a obra não somente uma "sequência de eventos" pela qual o espectador, ou leitor, deve se deixar absorver passivamente. Seja na metalinguagem explícita de escritores como Kurt Vonnegut¹, ou nos planos estendidos de Godard², a construção de sentido é lúdica e pressupõe que o espectador compreenda ativamente algum tipo de intenção por parte do diretor, narrador, etc...
Pirandello³ afirma que o riso é uma forma de catarse acessível, na qual o sujeito que ri, não percebe necessariamente a razão de seu próprio riso, mas cria, no seu íntimo, um entendimento maior.
O rosto que sorri é a busca por um humor catártico feita através de uma narrativa contemporânea, de apelo estético, que tenta explorar as possibilidades do Vídeo HD, enquanto afirma, num rompante de "moral da história", que a vida não passa de uma ilusão, uma ficção, um sonho.
¹ Kurt Vonnegut, escritor estadunidense (1922-2007)
² Ver Acossado (À bout de souffle. Jean-Luc Godard. França, 1960).
³ Luigi Pirandelo, escritor, dramaturgo e poeta italiano (1867-1936). O ensaio L'umorismo, escrito em 1908, e publicado no Brasil (O humorismo. São Paulo: Experimento. 1996) é a referência para esta citação.
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